quinta-feira, 7 de maio de 2009
A cara do Brasil
Não... Não pense que vou falar do "cara" - que já foi muito bem colocado no artigo do escritor e jornalista Marcelo Carneiro da Cunha (leia aqui). O assunto é mesmo "a" cara do Brasil.
Tenho percebido, já há algum tempo, que o brasileiro tem deixado de ser metido à besta e incorporado, a cada dia, o orgulho de fazer parte de seu povo. Digo "povo" e não esta elite alienada, insípida e inodora que nos rouba ou ajuda a nos roubarem.
Claro, que ainda nos deparamos com tipos de mau gosto se esvaindo em risos de piadas estúpidas, preconceituosas e, sobretudo, de mau gosto. Por não ter atributos físicos que me identifiquem com a grande parte do povo brasileiro, sou sempre sujeito a piadas, quando me identifico como um corinthiano fanático, do tipo: "Mas você tem todos os dentes da boca!?!".
Sempre tenho vontade de sentar com esta pessoa na mesa de boteko e explicar a ela os anos e anos em que ela foi submetida a informações - e até uma educação - preconceituosa e que repassa aquilo sem pensar no que diz. Ah! Se ela soubesse um pouco de Gilberto Freire, de Pixinguinha, de Milton Santos (o geógrafo e o jogador...), de Zumbi dos Palmares. Ela teria tanto orgulho de ser parte desta nação.
Mas sempre acabo deixando um sorriso amarelo, para não me envolver em debates desnecessários. Muitas pessoas se parecem com aquilo que elas gostariam de ser. De estar sempre almejando aquilo que vê na TV ou nas revistas de aluguel. De aparência. E não de emoções.
O povo brasileiro vive aquilo que ele é. Ser. Não ter. Ele acorda cedo, ainda de madrugada, para recolher o seu lixo, aparar o seu jardim, fazer o pão do seu café da manhã, consertar o pneu furado do seu carro, cuidar da portaria do seu prédio. Ou te assaltar em qualquer esquina. Se é isto o que nós, como sociedade, o demos como opção. Com dente ou sem dente, ele estará lá. Vivendo seu dia-a-dia. Balançando nos circulares. Comendo "prato-feito" naquele restaurante simples. Batucando na mesa e cantando o hino do seu "CURINTIA" em ritmo de samba naquele boteko copo sujo. Vivendo e sendo feliz. Sem almejar ser o que não é.
Esta, para mim, é a cara do Brasil. Traduzida no rosto de milhares de corintianos, que é povo no seu dia-a-dia e que se torna um rei no Pacaembu. E foi como povo desse rei, que o fenômeno no mundo encontrou a felicidade em seu país. Ronaldo, o maior do planeta por duas vezes e envolto em tantos casos controveros, nasceu no subúrbio carioca, passou por dificuldades financeiras quando criança, frequentou escola pública, jogava bola descalço na rua. E era feliz. Virou fenônemo e conquistou fama, ganhou dinheiro, viveu na Europa, conheceu a elite mundial. Mas só voltou a ser feliz quando voltou a ser povo em seu país.
Apesar de não ter o dinheiro que ele tem e vivido o que ele viveu, eu, realmente, não faço parte do povo brasileiro pela aparência ou pela condição financeira. Talvez viva melhor - materialmente falando - do que mais de 90% dos que fazem parte dele. Eu faço parte deste povo porque eu me sinto parte de um bando de loucos. Que trabalha honestamente. Que respeita a cultura e os gênios que este país gerou. Que batuca no boteco copo sujo e enche a cara de cachaça. Que tem orgulho de amar e acreditar que este país é o país. E que tem orgulho de ser a cara dele.
Imagens:
- Corintianos comemoram título invicto do Paulistão 2009 no Pacaembu.
Crédito: Mastrangelo Reino/Folha Imagem
- Ronaldo agradece torcida do Corinthians após conquista do Paulistão 2009.
Crédito: (meu amigo...) Marcos Ribolli /globoboesporte.com
Vídeo:
- Homenagem da ESPN ao Corinthians
Edição: André Kfouri e Carlos Brighi
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