Fiz esse texto para o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo do Fabinho Serapião, que está produzindo um site para o Meu Kantinho Centro de Cultura (o site atual ainda está no ar, quando o novo entrar, atualizo aqui). Como fui eu que o levei até lá pela primeira vez, ele me pediu uma colaboração para o memorável projeto. Como já está feito, compartilho aqui com vocês.
Já tem algum tempo que me dedico, com prazer, a estudar o samba. Falar de samba é falar das próprias raízes brasileiras. Da sua formação, de seu povo, de sua verdadeira história. E também da sua desigualdade, do ranço preconceituoso e da ganância que, infelizmente, ainda emana de boa parte de uma elite que tende sempre a ignorar a beleza e a sabedoria que brota na simplicidade.
Foi por intermédio do amigo compositor João do Violão que conheci o Meu Kantinho Centro de Cultura. Lá, onde se canta samba o ano inteiro, conheci Clóves do Violão, Sivuca, ‘capitão’ Armando, Victor Baptista, Bárbara (e seu delicioso feijão preto), entre tantos outros. Lá fiz amigos e descobri nas sete cordas do americano e mangueirense fanático Clóves - fundador do projeto - que o samba tem, sobretudo, alma.
Desde os tempos de Tia Ciata, que acolhia os criminosos tocadores de tambor e violão perseguidos pelos capitães de mato (que, na época, já estavam devidamente fardados), à dedicação de Clóves para manter o sorriso no rosto das crianças da Penha, na boemia zona norte carioca, o samba é sinônimo de subversão.
Subversão no seu sentido mais puro. Da dissidência de um uma realidade imposta por poucos que têm uma falsa pretensão de superioridade sobre muitos que, simplesmente, não têm oportunidade de mostrar o que, realmente, é bom, belo e verdadeiro.
Clóves e o, hoje, ‘Nosso’ Kantinho – pois, assim como todos que ali já estiveram, me considero um pouco responsável por aquele lugar – iniciou uma revolução, que hoje é levada com maestria pela filha Alessandra e pelos amigos que ali ficaram. A revolução do sorriso das crianças da Penha, que aprenderam nas sete notas ensinadas pelo mestre a levarem a vida no compasso que a vida lhes dá.
Ao Clóves, que hoje participa de rodas em outra dimensão, agradeço por mostrar a mim – e a tantos outros – aquilo que Noel já havia dito. Que o samba não vem do morro, nem da cidade, e sim nasce no coração. A ele, meu samba em feitio de oração...
Legendas e créditos:
- Eu no Meu Kantinho com os bambas Sivuca (D) e 'capitão' Armando. Arquivo Pessoal.
- Vídeo em comemoração aos 10 anos do Meu Kantinho Centro de Cultura e homenagem à Clóves do Violã. No Youtube.
- João do Violão no Meu Kantinho cantando: "De manhã quando eu desço a ladeira.. a nega pensa que eu vou trabalhar". No Youtube.