sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Política e políticos de boteko

Assisti o discurso do presidente Lula no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (30), na reabertura do estaleiro de Niterói. Podem falar dele e do governo dele o que quiserem, não é isto que quero colocar em questão. Agora, que o homem tem o perfil de um bom botequeiro, acredito que não há tucano ou DEM (que nominho pro ex-PFL... meu Deus!...) que possa discordar.

Imaginem só o Alckmin tomando uma no boteko com a galera. Pra começo de conversa, acho que ele não aguentaria nem a primeira rodada da branquinha. E a Heloísa Helena na roda de samba, então!?!... Nem saia ela usa!!! Além de quê, acho que ela iria dar piti porque o surdo está fora de ritmo ou o tamborim muito alto. Algo do tipo.

Agora, o Lula deve ser um boa praça no boteko. Talvez, se ele entrasse no coro molharia um bocado a mesa e a porção de torresminho por causa da língua presa. Mas na retórica - e dizem as línguas midiáticas estadunidenses, 'naquela que matou o guarda' - o presidente é doutor.

Se ele fala até de futebol - assunto que tenho evitado até o momento aqui no blog por motivos pessoais - em discurso de lançamento de estaleiro, imagina no boteko, com um torresminho, umas Brahmas e aquela que vem lá de Minas. É incrível como ele consegue fazer brilhar o olho das pessoas mais simples com um discurso no mesmo tom que elas falam. Um quê de simplicidade é fundamental, para este interlocutor.

Sei que podem até me tachar de fazer propaganda política para o camarada. Mas imaginem uma cabritada no morro com FH falando do mau português falado pelo povo. O repertório da roda de samba ia ficar pobre, intimidado. Adoniran Barbosa e seu 'tiro ao Álvaro' seria praticamente banido. Bezerra da Silva então... seria excomungado. E a Falso Moralista, de Nelson Sargento, totalmente censurada. Afinal, não se pode cutucar a onça assim, com uma vara tão curta.

Talvez seja aí onde pecam os marqueteiros da oposição. Falar mal do Lula é falar mal do povo brasileiro; é assim que se entende lá no morro. E ele - o povo, não o Lula - nunca entendeu o discurso nem dos políticos, nem da mídia. CPMF, superávit primário, CPI. Estas siglas e expressões nunca estiveram no cancioneiro popular. Muito menos se fazem presente nas rodas de samba - a não ser por motivo de chacota, é claro.

Agora discurso onde se ouve 'franguinho e Sidra Cereser de Natal', como Lula fez lá no Rio, é praticamente um papo de boteko para aqueles que vivem uma vida simples, repleta de dificuldades. Mas que aprenderam a descobrir a felicidade na amizade do vizinho que banca a bebedeira após o enchimento comunitário da laje, no encontro da família no 'churrasco de natal' ou no copo sujo com os amigos no boteko do 'seu' Zé.

É uma questão de identificação. E de valores.

Para uns, valor está diretamente ligado a dinheiro. Negócio. Ou business, como dizem por aí. Afinal, 'time (e não é de futebol...) is money'.

Para outros, um torresminho, uma(ssss) cerveja(ssss), aquela que matou o Lula... ops... o guarda, amigos e a família é o que vale na vida. Afinal, não é todo Natal que precisa de ceia, vinho e bacalhau, como dizem Arlindo Cruz e Sombrinha, na voz de Beth Carvalho (ainda não consegui linkar mp3, então veja a letra aqui).


(Foto: O inesquecível Adoniran, em um dos botecos da vida - Se souberem o crédito, me escrevam. Procurei e não encontrei.)

Um comentário:

Anônimo disse...

Que beleza Plínio! Que beleza de texto! É exatamente isso! E digo mais: o que envergonha a classe média babaca - aquela que, sabidamente, come ovo e arrota peru - é justamente o que me enche de orgulho. FHC tomava seu uisque e era elegante. Lula toma nossa boa e velha cachacinha e é tido como bêbado, pau-d´água, bronco. Para além das críticas políticas que possam ser feitas - e eu faço algumas -, Lula tem feito um governo muito bom (os indicadores estão todos aí para quem quiser, basta admitir). A maioria das críticas que ouço, porém, não são políticas, mas pessoais. E é aí que compro a briga do Barba sempre! Quem chama Lula de ignorante, burro, pinguço etc, na verdade revela o nojo que sente pelo Brasil e pelos brasileiros. Pau neles!